Passeando com o cachorro, num dia comum, vi, de repente, um couro de sapo. Estava ressecado pelo sol, coberto com um pouco de poeira, a poeira da rua, mas era mesmo um couro de sapo. Ou, melhor dizendo, a remanescência de uma vida, de um ser único, aquele sapo que um dia fora e agora não era mais. Disto me dei conta.
Ah, mas é só um sapo, diria alguém na pressa. E eu responderia: não, não é só um sapo. A natureza produziu aquele ser diferenciado do resto, ele como ele mesmo, único, igual apenas como parte de uma família, a dos sapos, mas dotado de vida própria surgida num momento em que a natureza operou para que aquilo acontecesse, tal a tudo que o milagre da natureza manifesta.
Agora, ali, só o couro ao chão, consumido aos poucos pelos processos naturais - sol, chuva, insetos e microrganismos -, sem mais a possibilidade do que é organicamente vivo. Como tudo que um dia chega, existe, sobrevive, sonha, luta e depois parte, desaparecendo como potência neste mundo e entrando para a nulidade e o esquecimento. Ou, se melhor pensarmos, algo que cumpre a regra geral da vida, cumprindo uma travessia de desejo, necessidade e transformação. Mistério.
Do mesmo modo, observo a velha goiabeira no quintal, perdida de seu viço juvenil, sem mais vigor, aguentando-se em seus dias finais, sem lembrar muito o que fora sua pujança de verde frescor. E ali me vejo, como vejo a todos nós, seres de uma teia misteriosa, a qual não sabemos ao certo dos porquês mais profundos e das intenções totais.
Os prazos da vida se cumprem, queiramos ou não. É a natureza do universo, do que existe. Portanto, o tempo que se "tem", é tudo, é a própria vida, um milagre. Bem viver, se assim pensarmos, é procurar crescer adequadamente, buscando compreender cada etapa.
|Imagem: Istockphoto.com
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Pequeno, mas possível. E suficiente. Mínimo, humilde, adequado. Este bloguinho de nome curioso - Só Um Transeunte -, o qual se quer simples e de bom uso, é administrado por Webston Moura, que é Tecnólogo de Frutos Tropicais, cronista e poeta.
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