Gosto de ficar só. Mas, obviamente, nem sempre foi assim. Já me apavorei com solidão, especialmente quando jovem. É que o jovem é mais gregário, mais da turma, mais de estar por aí pelo mundo, reunido em bando. E, para tanto, abrir contatos, conhecer novas pessoas e por aí vai. Ou seja, o jovem segue um rumo diferente do rumo da solidão. Mas, de uns tempos pra cá, eu que não sou mais jovem, gosto muito de ficar só. Gosto de ficar no meu silêncio, sentindo-me longe de tudo, como quem viaja de trem por uma paisagem bonita, dia de sol, à janela, olhando, navegando, deixando-se estar, sem pressa e sem desejo, calado.
Penso que a solidão, essa desejada e pacífica, é quando a pessoa saboreia a si mesma, aceitando-se, abraçando-se. Eu gosto! É como se assim a pessoa pudesse viver melhor tempo e espaço, livre dos tantos interesses e engasgos que a vida oferece.
Às vezes, nesses momentos, escuto música. Música de quando eu era jovem, coisas dos anos 1980 pra trás. E mesmo alguma tristeza que me ocorra, hoje é diferente. É um tanto de nostalgia, um tanto de alegria por ter memória, um tanto de suspiro largo, sozinho em meu canto, protegido do mundo. Uma alegre tristeza, digamos desta forma. Uma paz. A paz possível e essencial.
Em geral, temos medo da solidão quando não nos sentimos inteiros em nossa própria pele, quando nosso diálogo interior não nos basta, quando necessitamos de acontecimentos, de algum ruído externo que venha preencher nossa convivência, nossos instantes. Crescendo, evoluindo, podemos - até devemos, digo - criar apreço pela solidão, pois significa dar vazão ao nosso interior.
Lembro-me aqui de uma pintura de Edward Hopper, "The Lee Shore" (1941), que me toca e me faz pensar no assunto. É a que coloquei no início desse texto. Vejo-a como forma de solidão ou de sugestão de solidão. Creio que porque nela os traços humanos não se dão tão diretamente, com a presença de gente, mas apenas de objetos. E, também, e muito claramente, por sugerir a praia de um mar distante, nalgum lugar paradisíaco.
Vez ou outra, ao menos, precisamos desta solidão, que é um estado de alma onde nos privamos do dinamismo caótico do cotidiano, das falas outras de bocas geralmente tagarelas, coisas do reino das opiniões e palpites. Esta solidão, de silêncio e contemplação, nos cura, nos salva do redemoinho feroz dos acontecimentos.
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Pequeno, mas possível. E suficiente. Mínimo, humilde, adequado. Este bloguinho de nome curioso - Só Um Transeunte -, o qual se quer simples e de bom uso, é administrado por Webston Moura, que é Tecnólogo de Frutos Tropicais, cronista e poeta.
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